Inteligência artificial impulsiona desinformação em eleições globais
A inteligência artificial (IA) emergiu como uma poderosa ferramenta na disseminação de desinformação eleitoral, apresentando desafios sem precedentes para democracias ao redor do mundo. Recentemente, o Equador tornou-se um exemplo emblemático desse fenômeno, com sua campanha presidencial marcada por uma onda de conteúdos manipulados gerados por IA.
O avanço tecnológico permitiu a criação de deepfakes - vídeos e áudios falsos ultrarrealistas - capazes de enganar até mesmo os eleitores mais atentos. Essa nova realidade levanta questões urgentes sobre a integridade dos processos eleitorais e a necessidade de medidas eficazes para combater a propagação de informações falsas.
Especialistas alertam que a facilidade de produção e a velocidade de disseminação desse tipo de conteúdo representam uma ameaça significativa à formação da opinião pública. A capacidade da IA de gerar textos, imagens e vídeos indistinguíveis do real está redefinindo os limites entre fato e ficção no cenário político.
Impacto global da desinformação potencializada por IA
O fenômeno observado no Equador não é um caso isolado. Países como Índia, África do Sul e Brasil já enfrentam desafios semelhantes. Em eleições recentes, vídeos manipulados de políticos fazendo declarações falsas viralizaram nas redes sociais, influenciando o debate público e potencialmente alterando o curso de campanhas eleitorais.
A Fundação Getúlio Vargas (FGV) está conduzindo um estudo abrangente sobre o impacto da IA em eleições ao redor do mundo em 2024. Os pesquisadores identificaram casos preocupantes, como um vídeo falso do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ameaçando sanções contra a África do Sul, que circulou amplamente durante o período eleitoral no país africano.
O diretor da Escola de Comunicação da FGV no Rio, Marco Aurélio Ruediger, destaca a mudança significativa na manipulação de voz e imagem, tornando quase impossível a identificação de conteúdos falsos sem o auxílio de ferramentas especializadas. Esse cenário exige uma resposta coordenada e global para preservar a integridade democrática.
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Deepfakes e conteúdos manipulados por IA desafiam a percepção da realidade no contexto eleitoral. (Imagem: Reprodução/Canva) |
Estratégias de combate e regulamentação
Frente a essa ameaça, governos e instituições eleitorais estão desenvolvendo estratégias para mitigar os riscos associados à desinformação potencializada pela IA. No Brasil, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) implementou medidas rigorosas para as eleições municipais de 2024, proibindo o uso de deepfakes e exigindo que qualquer conteúdo gerado por IA seja claramente identificado.
A regulamentação do uso de IA em campanhas eleitorais tornou-se uma prioridade global. A União Europeia está na vanguarda desse movimento, com a proposta de uma Lei de Inteligência Artificial que visa estabelecer padrões éticos e legais para o desenvolvimento e aplicação dessas tecnologias. Outros países, incluindo o Brasil, estão seguindo esse exemplo, adaptando suas legislações para enfrentar os desafios específicos da era digital.
Além das medidas legais, especialistas enfatizam a importância da educação digital e da alfabetização midiática como ferramentas fundamentais para combater a desinformação. Iniciativas como o projeto Confia, desenvolvido pelo Pacto pela Democracia no Brasil, utilizam IA para mapear e combater a disseminação de informações falsas, demonstrando que a tecnologia também pode ser uma aliada na preservação da integridade eleitoral.
O futuro das eleições na era da IA
O avanço contínuo da inteligência artificial apresenta tanto oportunidades quanto desafios para o futuro das eleições democráticas. Por um lado, a IA pode ser utilizada para melhorar a eficiência e a transparência dos processos eleitorais, auxiliando na detecção de fraudes e na análise de padrões de votação. Por outro, seu potencial para gerar e disseminar desinformação em larga escala permanece uma preocupação central.
A colaboração internacional emerge como um fator crucial nesse cenário. Marco Aurélio Ruediger da FGV defende uma aliança global das democracias para enfrentar os desafios da desinformação e pressionar as plataformas de mídia social a adotarem medidas mais efetivas de controle. Essa abordagem coordenada é vista como essencial para garantir a integridade das eleições em um mundo cada vez mais digitalizado.
À medida que nos aproximamos de um ciclo eleitoral global significativo em 2024 e 2025, a comunidade internacional enfrenta o desafio de equilibrar o potencial inovador da IA com a necessidade de proteger os fundamentos democráticos. O sucesso nessa empreitada dependerá da capacidade de adaptação das instituições, da conscientização dos cidadãos e do compromisso coletivo com a verdade e a transparência no processo democrático.